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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Cyber Choices - Capítulo 1





Capítulo 1 - Resistência


As escolhas que faremos hoje mudará tudo no futuro...



Acordei meio tonto, abri apenas meu olho direito pra evitar a claridade e tentar ver que horas eram. O relógio marcava 9:43 da manhã. O sol entrava pelas brechas da persiana junto com o som dos carros que passavam pela rua. Estiquei o braço até a mesa e peguei meu celular. Ele estava cheio de mensagens, mas eu sentia tanta dor de cabeça que nem me esforcei para ler. Levantei da cama uma meia hora depois e fui até a cozinha preparar um café. Enquanto esperava, tomei dois comprimidos de remédio para dor. Voltei ao quarto, sentei-me na cadeira e liguei meu computador. Enquanto bebia o café lentamente, continuei a ler as mensagens. Algumas diziam que eu era fantástico, outras diziam que eu era terrível. Em meio à várias, vi uma com o nome de remetente "Hawks". Dei um pulo da cadeira, quase derrubando o café que estava na mesa. Comecei a ler desesperadamente...

"O que você fez foi sensacional, digno de um artista. Convenci alguns membros do Hawks a te convidar, o que você acha? Vamos conversar, me mande um e-mail.

pyro-hk@hawks.com


Um beijo...
Pyro."

Terminei de ler e fiquei paralisado na cadeira.
Comecei a pensar no dia anterior e em tudo que havia acontecido. Eu me tornei o foco das atenções e com isso acabei atraindo olhares. Eu não esperava uma repercussão tão grande assim.

Acessei meu computador, entrei no fórum do Null e comecei a criar um post dizendo que eu tinha sido convidado para entrar pro clã "Hawks". Atualmente, existiam vários grupos de hackers, mais conhecidos como clãs. Esses grupos foram criados com o intuito de reunir pessoas com boas ideologias e organizar movimentos de ataque cibernético contra qualquer governo ou empresa que estivesse roubando dos que já não tinham quase nada. Entretanto, começaram a surgir clãs com pessoal mal intencionadas, e foi aí que tudo começou...
O clã mais poderoso atualmente era o "Crackers Exploit Everything", mais conhecidos como CEE. O seu grande poder não vinha do conhecimento de seus membros, mas sim do dinheiro que eles possuíam. O suborno era sua principal arma. Eles não tinham respeito por nada nem ninguém. Acessavam qualquer servidor vulnerável, roubavam dados para pedir resgate em dinheiro, clonavam contas, cartões, credenciais ou qualquer coisa em que pudessem tirar proveito.

O Null era a minha casa, o meu território. O fórum foi fundado em 2010 com a ajuda do Cortex, meu melhor amigo. Assim que terminei o post, enviei o mesmo e me levantei da cadeira. Coloquei uma blusa qualquer e desci para ir até a casa do Cortex. Ele morava na minha rua, algumas casas abaixo da minha. Desci dando uma corridinha, pulei o portão da casa dele e dei a volta pelos fundos. Olhei pela janela e ele estava lá dormindo.

— Qual é cara, acorda! Cortex! — Assim que chamei o nome dele, ouvi um gemido misturado com um "oi".
— Abre aqui cara! — gesticulei pelo lado de fora.
— Tá aberto... — ele respondeu com uma voz de sono.

Andei até a porta e entrei no quarto dele. O quarto era mal arrumado, cheio de placas e peças soltas espalhadas pelos cantos e gavetas. A mesa do seu computador era o local mais arrumado, apenas com os dois monitores, o teclado e o mouse em cima da mesa. Cortex adorava LED's, então quase todos os seus equipamentos eram modificados, o que tornava o quarto legal e cheio de cores. Cortex estava deitado na cama embolado com os lençóis.

— Nós conseguimos! Vamos cara, levanta, você precisa ver isso! A Pyro me mandou uma mensagem!

Foi instantâneo. Quando eu terminei de falar ele deu um pulo da cama com o rosto todo amassado e meio babado.

— O QUE? COMO ASSIM? — berrou. Ele se levantou correndo, tropeçou e caiu em cima de algumas placas de computador e HD's antigos ou queimados. Desastrado como sempre.
— É isso mesmo... Olha a mensagem dela, acabei de postar no Null.

Ele se levantou do chão, se sentou na cadeira preta de couro e acessou o fórum.

— Ainda não to acreditando que ela realmente fez isso, é impossível... — disse ele, coçando a cabeça.
— Quer dizer, é possível, mas à dias atrás eu achava isso impossível. Nós realmente fizemos algo grande... — continuou, deixando as palavras ecoarem seguidas por um silêncio dos dois.

Enquanto Cortex estava no computador, peguei seu notebook e me sentei na poltrona. Entrei no meu e-mail e fiquei pensando em escrever uma resposta para a Pyro, mas eu nem sabia o que escrever ou como escrever. Enquanto pensava, me recostei na poltrona e notei que Cortex estava olhando um site de ferramentas para Linux.

— Tá fazendo o que?
— Ah.. to olhando umas ferramentas novas só. Porque? — ele respondeu sem olhar pra trás.
— Por nada, só to entendiado. Bora na rua mais tarde beber alguma coisa. — falei, olhando pro relógio na parede, cujos ponteiros marcavam 18 horas e 32 minutos.
— Beleza. Vou comer alguma coisa antes. — ele respondeu positivamente acenando com a cabeça.

Voltei a olhar pro notebook e fiquei lembrando da noite anterior. Eu e o Cortex sempre tivemos muito potencial, eu com linguagens de programação e ele com redes de computadores. Nossos conhecimentos juntos era algo formidável, e não foi atoa que conseguimos alcançar nosso objetivo. Eu jamais teria conseguido fazer algo de útil sem ajuda dele e vice-versa.

Era óbvio que eu não iria fazer nada sem a ajuda dele, então comecei a escrever o e-mail em resposta a Pyro.

"Olá Pyro.
Fico grato pelos elogios. É gratificante ver que pessoas importantes estão apoiando a causa.
Seria um imenso prazer poder fazer parte do Hawks, mas não posso aceitar o convite. Tudo o que fiz foi com a ajuda de um grande amigo, e não posso abandonar ele agora.

Att,
Code.
"

Respirei fundo e cliquei em enviar. Feito.
Fechei o notebook, estiquei as pernas e me reconfortei na poltrona. Ainda sentia um pouco de dor de cabeça e aproveitei pra descansar um pouco. Acabei pegando no sono, e quando acordei já estava de noite. Segurei o notebook que estava no meu colo e levantei da poltrona sentindo alguns ossos da minha perna estalando. Peguei minha mochila que estava em cima da cama e guardei o notebook dentro dela, saí do quarto indo em direção a sala. O cômodo não era grande, mas o espaço era agradável. A casa toda estava em silêncio e não tinha sinal de ninguém por perto. Saí pela porta da sala que dava na entrada da casa. Cortex estava sentado na varanda e virou pra trás quando me ouviu saindo. Ele estava fumando cigarro, no seu celular estava tocando a música "Hey Joe" de Jimi Hendrix.

— Dormiu bastante, princesa? — ele disse rindo e voltando a virar para frente.
— Tava com dor de cabeça desde cedo. — respondi.
— Quer um cigarro? — disse, pegando o maço e passando pra mim.
— Vou parar de fumar. — falei em um tom de voz sério. — Mas não hoje, algum dia. — completei rindo.
— Ah, sim, com certeza. Também vou. — ele respondeu, dando uma risada.

Continuamos fumando e conversando sobre assuntos aleatórios. Era sábado, e quase sempre nós fazíamos alguma coisa. As vezes nós marcávamos com outros amigos para ir a alguma casa de eventos, o que quase sempre era legal. Fiquei pensando algum lugar para ir e me lembrei de uma boate que tinha aberto recentemente. O nome do local era “192”, uma Cyber House que os hackers gostavam de frequentar por 3 motivos: Drogas, músicas boas e curtição sem hora pra acabar.

— Já ouviu falar dessa “192”? — Perguntei ao Cortex. — É uma Cyber House que abriu essa semana.
— Sim, inclusive me chamaram pra ir lá hoje.
— Então vamos. Só tenho que ir em casa trocar de roupa.
— Beleza, vai lá. Vou me arrumar aqui..

Saí pelo portão da frente e subi a rua voltando para casa. Quando cheguei, fiz um sanduíche e comi assistindo TV. Antes de descer novamente para encontrar com o Cortex, peguei meu celular e abri meu e-mail. A Pyro já tinha me respondido, então abri a resposta e comecei a ler.

"E se eu te disser que vocês dois foram convidados?
Nós temos muito mais recurso do que você imagina. Pense bem e me responda quando quiser.

Bye bye,
Pyro.
"

Isso pode dar certo, pensei. Esses recursos que ela se referiu são as ajudas que eles podem nos dar. Desde comida e abrigo até um veículo e uma casa nova. Sei que isso era uma boa oportunidade para melhorar de vida, e tanto eu quanto o Cortex precisávamos disso. Desliguei tudo, fechei a porta e desci. Cortex já estava me esperando, então andamos até o ponto do ônibus que iríamos pegar.
Demorou uns 20 minutos e então chegamos. A entrada tinha uma fila pequena pra entrar, então aguardamos. Na porta, um segurança revistava um por um antes de entrar. Apesar da aparência de mal, o cara era bem humilde.

— O Sr. tem alguma substância nos bolsos? — me perguntou.
— Não, eu só fumo cigarros. — respondi.
— Tudo bem. Se for usar alguma coisa, vá para o segundo andar. Tenha uma boa noite. — disse, abrindo passagem.

Acenei com a cabeça em agradecimento e entrei no local. De começo fiquei meio perdido, pois o local só era iluminado por alguns LED’s azuis presos no teto e pelos jogos de luz que ficavam girando. A música estava muito alta, então acenei pro Cortex para irmos até o bar, que ficava do outro lado da casa, ao lado da escada pro segundo andar. Atravessamos com uma certa dificuldade e chegamos até o bar. Era mais iluminado, e aproveitei pra pedir duas cervejas.

— Tá cheio aqui dentro, pensei que fosse estar vazio. — falei um pouco alto.
— Verdade, mas até que gostei daqui. — Cortex respondeu, olhando em volta.

Concordei balançando a cabeça. Estava tocando música eletrônica, e a maioria das pessoas estavam dançando ou se movendo de um lado para o outro.

— Bora lá em cima ver o que tá rolando! — disse Cortex, olhando na direção da escada.

Segui ele e subimos para o segundo andar. A música lá em cima estava mais baixa e o local estava mais vazio e agradável. De um lado tinham vários sofás, aonde a luz era mais fraca, provavelmente para dar mais privacidade. Do outro lado ficava o bar, que tinha uma variedade maior de bebidas que ficavam em prateleiras na parede.
Sentamos nas cadeiras altas de frete pro balcão do bar e continuamos a beber.

— Ei, Code. — disse, me chamando. — O que você respondeu a Pyro?
— Disse que eu não trabalhava sozinho, mas que fiquei feliz pelo reconhecimento. — respondi. — Mas ela me respondeu… e disse que você também foi convidado.
— Wowww! — disse, colocando a garrafa em cima do balcão. — Já marcaram alguma data? Local?
— Ainda não. Você acha que é tranquilo? — Perguntei. — Talvez fosse melhor marcar em um lugar público. Precaução nunca é de mais.
— É, você tem razão. — ele respondeu.

Estávamos sentados conversando e rindo, falando sobre coisas antigas que passamos na época da escola. Começou a tocar Vintage Culture e Cortex logo levantou empolgado. Estava rindo assistindo ele dançar quando vi uma mulher subindo as escadas. Ela era linda e não pude deixar de observar. Tinha os olhos meio puxados e o cabelo curto, na altura dos ombros. Estava vestida toda de preto, e seus óculos de sol estavam apoiados na sua cabeça. Disfarcei quando a vi vindo em minha direção e voltei a beber minha cerveja.

— Oi, me vê uma cerveja com tequila por favor. — ouvi ela falando com o bar man.

Ela se sentou perto, deixando apenas uma cadeira livre entre nós dois. Cortex voltou e se sentou do meu outro lado.

— Fala com ela.. — disse, rindo e falando baixo perto de mim.

Me virei pra ele e fiz uma cara de “você tá maluco?”. O bar man voltou ao balcão, entregando a bebida a ela. Cortex ficou observando e me olhando. Eu já sabia que ele estava pensando em alguma coisa.

— Cerveja com tequila! Essa é boa! — disse, falando alto e olhando pra ela.

Continuei olhando pra frente do bar, tentando evitar a situação.

— Melhor opção, não acha? — ela respondeu, tirando os óculos da cabeça e pendurando na blusa.
— Com certeza. Vamos pedir uma dessa também. — ele continuou. — Ei cara, me vê duas com tequila.

Cortex pediu as cervejas e começou a conversar com o bar man, perguntando se ele tinha uma garrafa de conhaque, afirmando que essa bebida era a melhor de todas.

— Vocês são de onde? — ela perguntou, bebendo a cerveja em seguida.
— Zone Leste. E você? — respondi com um tom de voz tranquilo.
— Ah, sim. Eu sou aqui do centro mesmo. Foi o que o governo me permitiu comprar. — disse ela, parecendo desapontada.
— Isso vai mudar daqui um tempo, acredite. — respondi.

Ela concordou balançando a cabeça. Alguns segundos depois, virou de frente pra mim e estendeu a mão. Coloquei meu copo em cima da mesa e levei minha mão de encontro com a dela.

— Muito prazer… — falei, esperando algum nome.
— Skyler. Mais conhecida como Pyro, se é que isso muda algo. — ela respondeu, soltando minha mão e pegando sua bebida.

Parecia uma piada no começo, mas alguns segundos depois eu percebi que realmente era ela. Fiquei pensando em falar quem eu era, ou em não falar nada, mas isso seria ridículo. Ela provavelmente já sabia quem eu era.

— Não vai me dizer seu nome? O verdadeiro? — ela falou, quando notou que eu estava pensando de mais.
— Ah… é Simon. — respondi, terminando de beber minha cerveja.


 
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